Viagem e mídia podre!
Viajar tem lá suas desvantagens. A pior delas, para mim ao menos, é ter que aguentar a rede Globo.
Explico.
Viajo muito a trabalho e, como sou um ser pacato e fiel, acabo por jantar no restaurante dos hotéis. Confesso: nem tanto pela fidelidade, mas mais pela preguiça. Depois que chego, ao fim de um dia cansativo, sair para jantar torna-se um fardo.
Sim, concordo, é coisa de velho!
Invariavelmente, e até hoje não entendi a razão de ser assim, em todos os restaurantes de hotel há sempre uma televisão ligada. Onde? Na Globo. Também não entendo, até hoje, porque resolvo jantar justo na hora do Jornal Nacional.
Quiçá Freud explique!
O fato é que, no hotel em Ibirubá/RS, mais uma vez me vi obrigado a assistir a esse supra-sumo (?) do jornalismo brasileiro. E qual não foi a minha surpresa (mentirinha, né?) ao ver que o tema de duas das mais longas “reportagens” era a saúde. Começou com a reprodução da reportagem da apendicite local (ops! O apêndice), a RBS, sobre a falta de atendimento da SAMU para um homem que havia passado mal no centro de Porto Alegre. Depois, o caso de uma idosa com a perna quebrada. O mote? Falar, pela enésima vez, do caos da saúde pública. Convencer, aos detentores de poucos neurônios pensantes, que nada nesse país presta.
Uma breve observação: detentores de poucos neurônios pensantes, aqui, refere-se a quem teve muitos neurônios bem alimentados ao longo da vida, mas que, por influência da Globo e similares, não sabem mais como são usados.
Pertenço à geração que viu o JN nascer. Do tempo em que a Globo não deturpava a música do Pink Floyd (que eles chamam de arranjo, atualmente). Quase certeza que 99.99% dos seguidores fanáticos do JN sequer sabe disso. E foi na deturpação da música símbolo que o JN mostrou ao que veio: deturpar a realidade. Ou, fazer arranjos da realidade.
Lá se vão 44 anos (1º de setembro de 1969). Quase três gerações literalmente adestradas. Skinner funciona, viu? Com choques diários, por 44 anos, qualquer rato aprende a não pensar. E torna-se um viciado no JN. Vicia-se na exceção. Acredita, piamente, no caos. Reverbera a imagem de que nada que se faça no Brasil (no Brasil que não é o deles, claro) presta. Tudo é ruim. Saúde, educação, segurança, nada está como “nós” queremos.
Bom mesmo era no tempo… Que tempo mesmo? Não importa, pois duas das grandes conquistas da Globo, e similares, foram: apagar o tempo e, ao mesmo tempo, criar um tempo que nunca existiu! Razões e explicações não importam. Importam as versões. E, no caso da SAMU de Porto Alegre, importou a versão. As péssimas condições de saúde do Brasil (leia-se e entenda-se “governos do PT”) matam mais um.
Não sei pra que o Iluminismo trouxe ao mundo, definitivamente, a razão. Em tempos em que tudo é “neo”, vivemos em pleno neo-obscurantismo.
Uma boa reportagem, digna de ser assinada por um jornalista que honre a profissão, poderia ter mostrado, por exemplo, que os investimentos realizados pelo atual governo crescem não apenas na SAMU, mas em toda área da saúde. Vide dados da imagem. Poderia, também, divulgar que uma frota de ambulâncias de emergência não é calculada com base em eventuais picos de atendimento; que estudos estatísticos sérios são feitos para determinar a quantidade ideal de ambulâncias e que esses estudos foram realizados por renomados cientistas e pela Organização Mundial da Saúde.
Situações como a de Porto Alegre são previsíveis e fazem parte do sistema. O que não era previsível é a passagem de um repórter da RBS justamente no momento. Também previsível foi a atitude do repórter de se aproveitar da ocasião e fazer da sua ajuda uma reportagem a ser transmitida para todo o Brasil via Jornal Nacional. Consciente de que ela seria usada para atacar o sistema de saúde pública brasileiro, ou seja, o governo.
Estão a serviço de quem? Sabemos bem… Esse é o efeito Globo: apagar a capacidade das pessoas de analisarem a realidade!
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