generalização

A generalização atrai as pessoas. Fornece a elas um pensamento rápido, via de regra com conotações emocionais – o que amplia sua aceitação -, e de fácil reprodução.

A frase “todo político é corrupto” resume bem uma série dessas generalizações, lançadas pela mídia com o objetivo, único, de atingir governos e parlamentos. É uma ideia fácil de ser repetida, ainda mais se associada a alguns poucos casos reais (e são poucos, como veremos) de corrupção.

Peça a uma pessoa, quando disser que “todo político é corrupto”, que aponte o nome de pelo dez corruptos. Talvez ela consiga nomear os seis ou sete que foram envolvidos na AP 470 ou, mais recentemente, um ou dois do chamado “mensalão tucano”. Nada mais do que isso.

Ora, temos no Brasil:

– Poder Executivo Federal: 2 (presidente e vice-presidente)

– Poder Executivo Estadual: 54 (governadores e vice-governadores)

– Congresso: 81 senadores e 513 deputados federais

– Assembleias Legislativas (26 estados mais DF): 1059 deputados estaduais/distritais

– Câmaras Municipais: 56.810 vereadores.

Não contando os políticos em cargos de segundo escalão (ministérios e secretarias), temos um total de 58.519 políticos atuando.

Segundo a ideia que é transmitida, nenhum desses 58.519 presta. Todos são corruptos.

Qual a pior consequência?

Foi a que vimos a partir das chamadas “Jornadas de Junho”: as pessoas dizem querer mudanças e identificam-se como apartidárias. Afora os movimentos específicos contra os aumentos nas passagens dos ônibus, tudo o mais tem sido carregado, pela mídia, com o tom da “mudança na política”, por que “todo político é corrupto”.

E nesse guarda-chuva, torna-se fácil transformar o ‘todos” em “tudo”; ou em “nada”, o que dá na mesma: tudo está ruim; ou, nada presta!

É a mais primária das técnicas de comunicação: implantar na mente das pessoas o niilismo pela generalização: se tudo está ruim, segue-se, necessariamente, que nada presta. Logo, é preciso preencher imediatamente esse vazio.

Se todos os políticos são corruptos, segue-se, necessariamente, que a política não presta. Logo, é preciso preencher imediatamente esse vazio. Como a direita conservadora viu fracassar seu projeto “político”, pela total incapacidade de escolher em quem apostar, alguns – mais afoitos e sem terem a mínima ideia do que falam – clamam pela volta dos militares.

A mídia, um pouco menos burra que essa gente, apostou em um caminho que até agora estava rendendo algum sucesso: vamos generalizar a judicialização da sociedade. Tudo deve passar pelo crivo do STF. Façamos do STF não apenas o Guardião da Constituição, mas o Grande Guardião de Tudo.

E a mídia joga com a mais básica das fraquezas humanas: o ego. O espetáculo? Vimos e estamos vendo. Dia desses ouvi uma correspondente do grupo RBS, em BSB, dizer: foram julgados pelo STF. Ponto, não há  o que discutir.

Esse é o efeito da generalização: imbeciliza as pessoas e as fazem repetir pensamentos prontos, tipo miojo, que sequer precisamos ler as instruções para fazer. Qualquer um faz miojo sem pensar!

E qual a segunda pior consequência? Pessoas saindo às ruas sem sequer tentar o diálogo. Ou seja, realmente generaliza ao desconsiderar as instituições e instâncias políticas como forma de encaminhamento das questões sociais.

Os chamados “golpes institucionais” começam assim, pela generalização do pensamento de que não há instituição alguma que preste. Mantidas as exceções, claro, das instituições e organizações que declaram isso para que os outros acreditem.

Chega dessa generalização de que somos um país que não tem nada de bom, onde nada funciona e onde todos somos corruptos ou só sabemos eleger corruptos e incompetentes para nos governar.

Ou, o que é a “mais das mais” imbecis generalizações: usar a palavra comunismo em pleno segunda década do século XXI.

Vamos parar de generalizar e começar a pensar?

 

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoA generalização atrai as pessoas. Fornece a elas um pensamento rápido, via de regra com conotações emocionais - o que amplia sua aceitação -, e de fácil reprodução. A frase 'todo político é corrupto' resume bem uma série dessas generalizações, lançadas pela mídia com o objetivo, único, de atingir governos...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!