Anda se tornando difícil a tarefa de escrever por aqui.

Enquanto propomos que cada um faça a sua parte, a produção brasileira de veiculos automotores bate recordes;

Enquanto propomos que cada um faça a sua parte, o Brasil tem o terceiro maior índice de analfabetismo da America Latina, ganhando apenas do Haiti e da Guatemala;

Enquanto propomos que cada um faça a sua parte, o desmatamento da Amazônia segue de vento em pôpa;

Por óbvio, a lista será interminavel. Culpa do mercado? Da democracia? Da classe média, sempre pronta a “colocar sobre as próprias costas toda a culpa por todos os problemas do
mundo
“? Da publicidade? Ou será da bolsa de luxo, que alguns defendem?

Uma coisinha básica, só para relembrar: o agir ou o não agir são sempre motivados. E motivados pelas crenças que vamos desenvolvendo ao longo da vida. O primeiro núcleo – e o mais poderoso – formador de crenças é (deveria ser), claro, a família.  E é onde  esse grande veículo do mercado, chamado de publicidade, melhor desenvolve suas técnicas. Publicidade, aqui, tomada num sentido amplo, pois uma novela que divulga “modos de vida” (alegando que estão apenas reproduzindo o que já acontece na realidade), nada mais faz do que publicidade para forçar a introdução desses conceitos na “sociedade”.

Perde-se o referencial (ética) e, a partir daí, vale qualquer coisa. Da autoridade da moral, passamos para a moral da autoridade. E onde não há referencial, qualquer um é autoridade. Aí fica fácil acreditar e justificar que bolsas de luxo são benéficas ao meio ambiente, porque duram mais que as de menos qualidade. Fica fácil aceitar, como boi cornetas que viramos, que a “liberdade de informar” é o bem mais supremo e inatacável que temos.

Quem não nasceu ontem, mas anteontem, pode bem verificar como a destruição do conceito de família tem sido operada. E atinge famílias de qualquer tipo: das mais bem estruturadas em termos de renda e instrução até as mais pobres em tudo.

Pais que acreditam em bolsas de luxo, certamente criarão filhos que acreditarão em bolsas de luxo. Pais que não podem ter uma bolsa de luxo, certamente criarão filhos que vão lutar para ter uma. Não há escola que eduque, onde há pais que deseducam. Resta a pergunta: qual educação? Quais valores?

Interessante o fato de que “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pregou hoje maior diálogo dos
pais com os filhos como forma de evitar o consumo de drogas pelos
jovens e classificou de “hipócritas” aqueles que atribuem o ingresso
deles no mundo das drogas exclusivamente a pessoas de fora do ambiente
familiar
” (daqui)

E a vida? “E a vida o que é diga lá meu irmão…” A própria vida foi relegada ao esquecimento. Apenas sobrevivemos e sem dignidade alguma, diga-se de passagem, se não tivermos a nossa bolsa de luxo.

O que temos que tentar mudar é a motivação das pessoas (adultas e, por reflexo, das crianças): de agirem por uma bolsa de luxo, para agirem pela vida. Num mundo supérfluo e sem valores, é utopia querer que as pessoas defendam o meio ambiente.

O que fazer? Colocar as rédeas de volta no lugar de onde jamais deveriam ter sido retiradas: na mídia. Mídia sobre controle é publicidade sob controle. Exigir que o governo faça a sua parte e coloque limites na gandaia que virou aquilo que é, quer queiram ou não, uma concessão pública.

O “embate racional” é: que valores queremos ter? Temos sido omissos em provocar esse debate. Nada mais natural que alguém ocupe esse espaço e faça o que bem entenda.

Luiz Afonso Alencastre Escosteguyeducação ambientalFaça a sua partePara pensarAnda se tornando difícil a tarefa de escrever por aqui. Enquanto propomos que cada um faça a sua parte, a produção brasileira de veiculos automotores bate recordes;Enquanto propomos que cada um faça a sua parte, o Brasil tem o terceiro maior índice de analfabetismo da America Latina, ganhando apenas...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!