O presidente da República, declarou, por meio de decreto (Dec. 19.945, de 25 de janeiro de 2022), luto oficial de um dia em todo o País, pela morte do senhor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho, mais conhecido como Olavo de Carvalho.

A lista de celebridades que morreram por causa da pandemia, ou mesmo naturalmente, é enorme. Gente que efetivamente fez diferença para a população brasileira. Em quaisquer campos de atuação. Dos mais famosos aos mais anônimos.

Sequer será necessário lembrar que já ultrapassamos a marca dos 640 mil mortos pela Covid-19. Em nenhuma situação houve em decreto similar. Aliás, sequer um comentário nas redes sociais, no “cercadinho”, nas “lives” de quinta, nada. Absolutamente nada.

Não foi o caso, no entanto, quando se tratou de homenagear o guru. O presidente postou, em suas redes:

“Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o Filósofo e Professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”.

Se tivesse se limitado a esse tipo de asneiras nas redes socias, é um direito dele. Mas usar da presidência para, com base nesse tipo de pensamento, decretar um luto oficial ao país inteiro, ultrapassa, em muito, toda e qualquer razoabilidade. Quiçá, qualquer senso de moralidade.

Primeiro, porque agride os verdadeiros filósofos ao chamá-lo, com maiúsculas, de “Filósofo”. Pior ainda, considerá-lo “um dos maiores pensadores da história do nosso país”. É um despautério digno da pessoa que ele é, o presidente. Demonstra total ignorância sobre quem são os verdadeiros grandes pensadores brasileiros. Ofende-os!

“Gigante pela luta da liberdade”? Olavo, com seus cursos, escritos e falas se tornou o guru do que de mais reacionário existe atualmente no Brasil e no governo. Gente que defende armas para todo mundo; gente que não só defende o uso como são os que mais propagam “fake news”; gente que confunde liberdade de expressão com liberdade para cometer crimes; e tantas outras situações de características de uma extrema direita que a única coisa que realmente defende é a sua liberdade. Não a dos outros.

É extremamente preocupante que não somente tenhamos um presidente que usa do cargo com o fim de homenagens pessoais, mas que aceitemos isso de forma tão passiva. Ok, ninguém dá bola para luto oficial. E esse é o problema: vamos ficando entorpecidos pelas pequenas coisas praticadas e, quando as grandes acontecem, sempre é tarde demais.

Mais de 624 mil mortos esperam pela Bandeira Nacional hasteada a meia-adriça (a meio pau, como se diz). E nada. E também como se diz, de onde menos se espera, é de onde não sai nada mesmo.

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