Não aprendemos
A pandemia do Covid-19 não foi suficiente. Será a enchente de maio de 2024 suficiente?
Durante e logo ao depois da pandemia, apregoava-se o “novo normal”. Novos modos de cuidados com a saúde, novas formas de trabalho, novas formas de relações entre as pessoas. Mais de 700 mil mortos deveriam ter causado um impacto profundo em nós.
Mas não. Passado pouco mais de um ano de a OMS ter declarado o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional referente à Covid-19, em maio de 2023, e as pessoas voltaram ao “antigo normal”.
Aglomeram-se em filas sem respeitar um mínimo de distanciamento; o trabalho presencial voltou a ser exigido para quase todos os trabalhadores; coleções e mais coleções de máscaras guardadas em algum canto de armário; a venda de álcool líquido voltou a ser proibida, enfim, a pandemia virou apenas história. Voltamos a ser o que sempre fomos: gente que não aprende.
Vencida a pandemia, os sobreviventes, no Rio Grande do Sul, sofrem a maior enchente da história, a maior em tudo: em mortes, em desalojados e abrigados, em cidades e bairros destruídos, em destruição.
Louvamos a solidariedade, louvamos a bravura de milhares de pessoas diretamente envolvidas no socorro, louvamos o amor pelo Rio Grande do Sul, louvamos a garra dos gaúchos.
Em seis meses voltaremos a ser o que sempre fomos: gente que não aprende. Centenas de manifestações de especialistas alertando para as causas – naturais e de escolhas políticas – de nada adiantarão. Não aprendemos.
Seguiremos sendo uma sociedade onde uma casta privilegiada seguirá dando as cartas no interesse próprio. E seguiremos sendo uma sociedade onde os mais prejudicados pela enchente continuarão a apoiar essa casta, mesmo sabendo que sequer migalhas receberão.
Custa muito pouco resolver os problemas das cidades, das zonas alagadas, das vidas atingidas. Somos um país rico. Mas também somos um país onde essa riqueza está nas mãos de uns poucos, muito poucos perto dos mais de 200 milhões de brasileiros. Não aprendemos.
Não aprendemos que o que está errado é nosso modelo de sociedade. Uma sociedade que diz: danem-se os moradores do Sarandi, da Vila Farrapos, do Lami, do Mathias Velho, de Arroio do Meio, de Roca Sales, das milhares de pessoas em quase todas as cidades do Rio Grande do Sul, para não fazer aqui uma lista extensa.
Não, a enchente de maio de 2024 não será suficiente. Nem as próximas e já previstas enchentes. Nem o medo das pessoas de voltarem para as suas casas, sabedores que são que logo adiante passaram pela mesma desgraça.
Somos um povo que não aprende. E os políticos sabem disso. E a classe que banca os políticos também sabe.
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