Limite, a palavra do século XXI
Se guerra pode ser considerada a palavra definidora do século XX, limite será a palavra que os historiadores usarão para rotular o século XXI.
Uma imensa transformação está em curso na humanidade. Raros são os grandes momentos (entendendo “momentos” como anos…) de transformação da sociedade humana. Conto, grosso modo e a partir do advento de Jesus de Nazaré, quatro: o próprio Jesus e o legado deixado por seus seguidores, o obscurantismo medievo (apesar de ter sido época de grandes conquistas para a humanidade), a renascença/iluminismo (a “modernidade”) e, agora, o limite.
Estamos testando – e questionando – todos os limites possíveis.
Charlie e Baga testam nossos limites de aceitação da hipocrisia. Testam, também, nossos limites quanto ao conceito de liberdade. Até há pouco, aprendia-se que a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro.
O humor, no Brasil e no mundo, está rompendo os limites desse conceito. Tenta-se, também, impor que não existam limites para a “liberdade de expressão”. O debate segue sendo o limite que devemos ter. Ou não.
O Papa Francisco vem, de certa forma até “sem limites”, rompendo barreiras tradicionais da Igreja em seus pronunciamentos.
Enfrentamos, no Brasil, uma onda de contestação ao preconceito – em todas as suas formas – que resultará na imposição de limites a uma cultura que nunca os teve.
Ainda no Brasil, começamos a perceber que há limites para o trato com a coisa pública. A sociedade, mesmo que ainda mal dirigida, começou a acordar para a questão da corrupção. E deverá acordar, em breve tempo, para dois males ainda maiores: a sonegação e a representação política. Imporá seus limites ao abuso da representação e rigor na punição aos sonegadores.
O mundo começa a descobrir que deve impor limites à intolerância. Seja de que matiz for. Cada vez mais as pessoas se afastam dela.
Mas, para que todos esse limites sejam atingidos e a verdadeira mudança aconteça, é necessário que se atinja o principal dos limites: o limite da hipocrisia.
Já começamos, apesar de que ainda levaremos quase todo o século para chegar lá.
Mas há um fato incontestável: cada vez mais e mais pessoas não aceitam mais a hipocrisia que dita os rumos do mundo.
Para se impor, o cristianismo sofreu e fez sofrer. E assim as três grandes religiões monoteístas. Para se impor, a modernidade fez e ainda faz sofrer muita gente. Chegar ao limite está fazendo – e ainda fará – muita gente sofrer.
Quiçá até para isso haja limite: o século XXI.
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