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Atribui-se a Einstein uma das frases que mais se aplica ao momento do futebol brasileiro: “não se pode querer resolver um problema com o mesmo tipo de raciocínio que o criou”! Há outras formas de escrever a frase, mas a ideia central é a mesma.

É inquestionável que o futebol brasileiro sofre, há anos, com a mercantilização. Como sou do tempo quando a Rede Globo ainda não determinava o horário das partidas, posso falar de cadeira.

O futebol brasileiro, como puro negócio que virou, pode e deve ser analisado com as ferramentas de análise de negócios. Claro que o futebol virou negócio em todos os países (até os EUA acabam de descobrir isso, com a copa de 2014), mas devemos buscar soluções para o nosso futebol.

O problema excepcional é: o futebol deixou de ser um esporte para ser um negócio.

Famílias incentivam os filhos a que frequentem escolinhas de clubes na esperança de se tornarem craques e de serem vendidos por milhões, faturando, também, milhões em salários e propagandas. O exemplo mais recente e completo disso tem sido Neymar.

Resumindo: tirando os peladeiros, que sabem que nunca deixarão de ser peladeiros, ninguém mais pratica o futebol como esporte.

A solução excepcional passa pela análise do negócio. E, nesse caso, a primeira pergunta a ser feita é: quem são os stakeholders (as partes interessadas no negócio, as partes que querem que o futebol siga sendo a grande fonte de renda que é).

Aqui aparece o primeiro fenômeno: a promiscuidade entre os stakeholders é tão grande, que por vezes fica difícil identificar a participação individual de quaisquer deles.  Um claro exemplo disso são as relações que existem entre os fabricantes do material esportivo comprado pelos times, a mídia e a cartolagem. Há uma união de interesses que acaba envolvendo até os chamados “patrocinadores oficiais” dos times.

A solução excepcional passa por entender e romper com o ciclo vicioso estabelecido por eles. As chamadas “cláusulas de barreira” que estabelecem no “mercado” do futebol.

Há que ir além do entendimento de que o futebol é um negócio e percebê-lo como fenômeno social. Essa percepção permitirá que leis sejam criadas para impor a “regulação do mercado”. Não se trata de o Estado interferir e tomar para si a guarda do futebol, mas de prover a sociedade de meios para que ela mesma possa fazer isso.

E sabemos que o futebol brasileiro não tem qualquer controle social. O que nos leva a segunda pergunta:

quem banca o futebol?

A paixão do brasileiro! E aí está a grande sacada dos stakeholders: a paixão torna as pessoas, os torcedores em particular, cegos à razão e frequentadores dos estádios, bancando a orgia financeira dos poucos que ganham muito.

A solução excepcional passa, também, por entender o fenômeno da paixão e de como trazer razão para o torcedor brasileiro. De como tornar o torcedor brasileiro crítico com relação aos gastos que faz para bancar a turma do andar de cima.

Crítico para não aceitar contratos que fazem com jogadores e técnicos que, ao fim e ao cabo, prejudicam apenas os clubes. Críticos para não comprar produtos de empresas que só querem faturar em cima do futebol. Críticos para não aceitarem que uma rede de televisão os obrigue a assistir seu time depois das 22 horas, ou mesmo não assistir porque simplesmente a rede decidiu que não iria transmitir.

Nisso o Estado pode e deve atuar. Atuar nas escolas, na formação dos professores de educação física, na formação de uma geração de crianças que aprenda a ver o futebol como esporte e não como forma de ganhar dinheiro.

Resumido: quem banca o futebol, pagando ingresso ou mensalidade do clube, é quem menos retorno tem.

A solução excepcional até que não é tão excepcional assim. Basta empoderar a sociedade que banca. O resto vem como consequência.

Levaram 40 anos para deixar o futebol brasileiro desse jeito. Se ações consistentes forem feitas para regular a ação dos stakeholders e para empoderar os pagantes do futebol, é possível que em 20 anos consigamos reverter o caos e torná-lo novamente um lindo cosmos que há muito nos abandonou.

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoAtribui-se a Einstein uma das frases que mais se aplica ao momento do futebol brasileiro: 'não se pode querer resolver um problema com o mesmo tipo de raciocínio que o criou'! Há outras formas de escrever a frase, mas a ideia central é a mesma. É inquestionável que o futebol...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!