Carta para minhas filhas
É difícil, para um pai, dizer o que vou lhes dizer, mas é preciso.
Sei que nenhuma filha há de gostar por ter um pai que fracassou. E é isso que devo lhes dizer: fracassei como pai em deixar um país melhor para que vocês possam se desenvolver e ter uma vida digna.
Diante de tudo o que estamos assistindo no Congresso Nacional, em especial na Câmara dos Deputados, hoje comandada por um legítimo cafajeste e um bando de ladrões , quase todos investigados ou alvos de ações penais;
Diante de tudo o que estamos assistindo na proteção do sistema judicial a bandidos envolvidos em tantas quantas falcatruas se possa imaginar, enquanto a outros se mostra o mais ágil dos sistema, tudo em conluio com interesses nada ocultos;
Diante do acerbamento do individualismo das castas abastadas, que nada mais fazem do que operar o sistema político em proveito próprio, como sempre;
Diante de tudo quanto há de mais podre em uma sociedade e que se constitui na única matéria-prima de uma mídia oligárquica comprometida na manutenção da moderna escravatura do povo e de sua permanente ignorância;
Diante do puro ódio sem razão que essa mesma mídia oligárquica insufla nas pessoas;
Diante do fato de saber que tudo isso resultou apenas da ação de um único homem, um covarde que não soube ter a dignidade de aceitar a derrota;
Diante da constatação de que, embora fruto da ação desse único homem, ele apenas despertou o que já existia no coração de tantos quantos hoje o apoiam;
Diante da possibilidade de ver mais de 50 anos de sonhos e trabalho por uma sociedade mais justa, mais equânime, mas honesta com seus cidadãos jogados na lata do lixo da história por estupradores da democracia;
Diante de tudo isso e de mais uma infinidade de fatos que atestam que estamos chegando ao fundo do poço da civilidade, devo admitir que fracassei.
Perdoem esse velho pai. Talvez, e digo só talvez, possam usar do pouco que soube lhes ensinar para que, quem sabe, possam construir vocês mesmas o país que não lhes deixo.
Lembrem-se sempre do verso do nosso hino: “povo que não tem virtude, acaba por ser escravo”. E não se deixem submeter a quem quer lhes transformar em escravas.
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