A mesmice de sempre!
Por vezes é preciso “redundanciar”. Há um poema do gaucho argentino José Laralde que diz “es redundanciando las vacas que se engrandecem las estancias”.
Mesmice já é algo que acontece sempre. Ou quase sempre. O sentido é o mesmo: repetição, ad nauseam.
Estamos assim, no Brasil. E a culpa não é do coronavírus.
Um dos efeitos colaterais do coronavírus, até hoje não anunciado pela OMS, é mostrar ao mundo o verdadeiro caráter das pessoas. Nada que já não soubéssemos. Só que agora se tornou mundialmente divulgado e conhecido.
A persona, a verdadeira máscara, cai ao se tornar necessário colocar outro tipo de máscara no rosto. Sobram, para que concentremos nossos olhares, o espelho da alma, os olhos. Os nossos e os dos outros.
Passamos a ser obrigados a olhar nos olhos. E a aprender a identificar as pessoas pelos olhos. Ou, mais, pelo olhar.
Dia desses, aguardando o elevador, no trabalho, vejo uma colega. Gentilmente nos cumprimentamos, como sói acontecer, mesmo entre colegas que não se conhecem ou que não têm contato cotidiano.
Eis que ela, passado uns minutos, pergunta: Afonso, és tu? Imediatamente a reconheci. Rimos e nos dissemos: difícil reconhecer as pessoas com máscara. Fiquei a pensar: não nos reconhecemos porque não nos olhamos nos olhos. Passamos batido, dia após dia, pelas pessoas e não as olhamos nos olhos.
Vestimos máscaras há muito tempo. Somos feitos de máscaras. De cores, texturas e formatos diferentes. Passamos a vida colecionando máscaras para disfarçar nossa mesmice. De sempre.
A falta de atenção de sempre. O discurso de sempre. Os atos de sempre dos governos de sempre.
Se estamos passando pelo que estamos passando é porque somos os mesmos de sempre.
A mesmice está em nós. A de sempre!
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