A máscara!
Diziam os antigos que tudo, na vida humana, resumia-se ao perfil que cada um assumia diante das variadas situações que a vida em sociedade exigia. Perfil é uma palavra moderna. Naquela época usavam a palavra hypocrisis, do latim, traduzido do grego hupokrisis. Com o tempo, virou a máscara usada pelos atores, eternizada nos carnavais, sendo o mais célebre o veneziano.
Não por menos, a hypocrisis, a máscara, foi eternizada no Brasil por obra e graça do Chico Buarque de Hollanda, na marchinha de carnaval “Noite dos Mascarados”:
“Quem é você… Diga logo que eu quero saber…”
Sugestivo, para o momento atual, são os versos finais:
“Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!”
Black Blocs não usam máscaras, usam panos para cobrir a face.
Nós usamos máscaras. Usamos nossa hypocrisis. Eles apenas são da “maneira” que nós pedimos que sejam. Eles apenas obedecem ao comando “o que você pedir eu lhe dou, seja você quem for, seja o que Deus quiser!”
Os Black Blocs existem na justa medida da nossa inexistência.
A única diferença é que eles usam panos, e nós, lindas máscaras. Eles quebram símbolos do capitalismo; nós usamos o capitalismo para falar ao celular enquanto dirigimos; nós atropelamos ciclistas; dirigimos bêbados; queimamos mendigos; expulsamos índios de suas terras; valorizamos a meritocracia; fazemos campanha para não dar dinheiro para crianças nas esquinas, mas nada fazemos para tirá-las de lá; matamos homossexuais apenas porque declaram uma opção sexual, enquanto nós fazemos “fio terra” escondidos na alcova; somos religiosos e defendemos a família acima de tudo – ao menos até que essa “família” chegue no Judiciário – que é onde a alcova se acaba…
É tanta a realidade vivida com a hypocrisis, que por vezes chegamos a duvidar se um simples pano é algo tão ruim assim.
E só não é por uma simples razão: o que era pano, já virou hypocrisis. Uma máscara feia, de mau gosto. Apenas isso. Tão feia quanto as várias que escolhemos usar ao longo da vida.
Se não estamos gostando dos Black Blocs, só há uma solução: mudemos nós a máscara que estamos usando. Simples assim!
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