A hipocrisia do racismo reverso
O tema, vez por outra, é requentado. Recentemente, por um artigo publicado na Folha de São Paulo, assinado pelo antropólogo Antônio Risério, “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo” (aqui).
Centenas de pessoas, quiçá milhares, se manifestaram, nas redes sociais, indignadas com a ideia do antropólogo. Em protesto “oficial”, mais de 180 jornalistas (da própria FSP) emitiram um manifesto contrário ao posicionamento do jornal.
Não é o caso, aqui, de discutir o que é racismo reverso. Não existe e pronto!
Uma pesquisa na internet vai apresentar inúmeros excelentes textos sobre o assunto. Aqui há um, só para exemplificar, onde o autor explica, inclusive, a diferença entre preconceito, discriminação e racismo.
A pergunta a ser feita é: a quem aproveita esse tipo de pensamento e, mais, a sua publicação, mormente em ano eleitoral e quando se observa um declínio quase irreversível das possibilidades de reeleição do atual mandatário?
Ao autor, sem dúvida alguma. É o velho e batido ditado: falem bem ou falem mal, mas falem de mim. Mas com certeza ele deve ter outros interesses – acadêmicos e profissionais – em defender uma pauta tão cara ao conservadorismo ressurgido das cinzas após a assunção do atual presidente da República, grande defensor e propagador de tudo quanto possa ser contra pautas tradicionalmente associadas à esquerda.
Ao jornal? Sem a menor dúvida! A FSP, todos sabem, é um jornal conservador e de direita. Até aí tudo bem. Jornais, redes de televisão e rádios podem ter lado. A questão da mídia brasileira, com raras exceções, é que não assume o lado que defende. Se faz passar por isenta, quando não é.
E usa o subterfúgio, hipócrita, de que não se responsabiliza pelas opiniões dos seus colunistas. É a arma da qual se utilizam para propagar sua defesa do que há de mais reacionário na sociedade.
Com isso, busca manter acessa a chama nos já parcos 25% do eleitorado conservador, majoritariamente bolsonarista.
Aproveita, também, aos diversos grupos que se formaram depois das eleições de 2018 para divulgar esse tipo de pauta. Pior, pautas sabidamente neonazistas ou que, de alguma forma, podem ser associadas aos conceitos nazistas.
“Segundo um levantamento feito pela antropóloga Adriana Dias, que pesquisa sobre o tema há cerca de 20 anos, o número de células nazistas no país teve um salto nos últimos anos: enquanto em 2015 eram 75, em maio deste ano foram encontradas 530” (aqui). (a referência é ao mês de maio de 2021).
Estamos frente a um movimento que, sob pretexto de defender valores que julgam destruídos por uma “esquerda comunista”, na verdade querem implantar uma supremacia não apenas branca, mas uma supremacia que relega a imensa maioria da população brasileira, negra e pobre, a um estado de inferioridade do qual, pensam, nunca deveriam ter sequer pensado em sair.
Hipocrisia no mais elevado grau.
Imagem de capa daqui: CPERS
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