Triste deve ser a vida de quem a leva limitado a ser a favor ou contra.

Tenho experienciado situações em grupos onde grande parte das pessoas se coloca dessa forma. Na verdade, pouquíssimas são as situações onde ser apenas contra ou a favor é aplicável.

Ser tão somente a favor ou contra elimina uma das características mais preciosas do ser humano: a capacidade de analisar.

De certa forma, esse é um efeito causado de forma proposital por uma mídia que precisa apenas que as pessoas sejam facilmente manipuladas – e daí vendem o que querem – e, mais atualmente, pelas redes sociais disseminadoras de fake news.

Quanto mais polêmico é um tema, mais as pessoas se resumem a ser contra ou a favor. Analisar dá trabalho, envolve leituras (livros e os tão odiados “textões”), debates com trocas de ideias e implica em fundamentar opiniões em um mundo dominado pela achologia.

Há uma situação, porém, dentre as raríssimas sobre as quais comentei acima, que, mesmo após exaustiva análise, não resta alternativa a não ser adotar a convicta posição “sou contra”.

Trata-se do projeto, em andamento, de venda das regiões nobres de Porto Alegre.

Primeiro, a olhos vistos o modelo de cidade que querem desenvolver vai na contramão de tudo o que o mundo está fazendo. Porto Alegre é uma cidade “pequena” e não uma metrópole, como alguns pensam que é ou fazem parecer ser. Está do tamanho certo para que outro tipo de “pensar a cidade” seja implantado. Não uma cidade que pretende ser a mais moderna e turística do mundo, mas uma cidade voltada para quem nela vive. Uma cidade que pensa na qualidade de vida das pessoas e não na qualidade dos pisos dos imóveis ou de encher as calçadas com letreiros luminosos.

Segundo, as alegações da atual administração de que a prefeitura não tem recursos para manter os espaços públicos beira à canalhice. A própria prefeitura apresentou orçamento superavitário. A única justificativa possível para tal projeto é acreditar, piamente, na já demonstrada balela de que a iniciativa privada faz tudo melhor que o poder público. E se fosse assim, por que então se candidatam a comandar a cidade? Se uma prefeitura é inepta para resolver os problemas da cidade, para que uma prefeitura? Vamos conceder, enrão, a prefeitura e, claro, o prefeito junto. A população passa a escolher gestores pelo currículo. Resolvemos tudo e ainda sai mais barato para o cidadão, que se vê obrigado a pagar impostos para bancar prefeitos que não querem trabalhar.

Terceiro, o tão propalado adensamento nada mais é do que ampliar o número de imóveis vazios e usados apenas como investimento ou garantia. Há mais de 100 mil imóveis vazios em uma cidade que, segundo o censo 2022, teve a população diminuida. A equação não fecha, sob quaisquer fundamentos que se queira: menos gente, mais imóveis. E as populações que realmente necessitam sendo abandonadas nas periferias.

Quarto, Porto Alegre foi tomada por um oligopólio de empresas do ramo da construção imobiliária. Tornou-se tão atrante que empresas de outros estados estão ingressando no mercado. Dinheiro é o que não falta para eles. Inclusive para bancar campanhas políticas. Já vimos isso aqui.

Quinto, tudo o mais está como que propositadamente sendo abandonado: transporte público à beira em péssimas consdições – cobradores sendo eliminados, Carris sendo vendida, linhas mal atendidas, isenções de estudantes eliminadas e, como se não bastasse, a prefeitura injeta mais de 100 mi nas empresas privadas. O mundo caminha para “Tarifa Zero” e Porto Alegre enche as burras dos empresários do transporte. Novamente, a equação não fecha: mais gente andando de ônibus, menos ônibus.

Last but not least, o Plano Diretor de Porto Alegre passa por uma revisão. Melhor dizendo, deveria ser uma revisão, mas a depender da prefeitura, será totalmente reformulado e com o claro objetivo de entregar a cidade para o oligoólio da construção civil.

Recordo da frase símbolo de quando Porto Alegre representou a esperança: “um outro mundo é possível” (1º Fórum Social Mundial, 2001). O que era um sonho sendo construído tornou-se um pesadelo nas mãos de quem está na prefeitura.

E, sim, uma outra Porto Alegre é possível!

https://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/08/logo_afavoroucontra.pnghttps://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/08/logo_afavoroucontra-150x150.pngLuiz Afonso Alencastre EscosteguyE aí, PrefeitoA favor,ContraTriste deve ser a vida de quem a leva limitado a ser a favor ou contra. Tenho experienciado situações em grupos onde grande parte das pessoas se coloca dessa forma. Na verdade, pouquíssimas são as situações onde ser apenas contra ou a favor é aplicável. Ser tão somente a favor ou...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!