A banalização do meio ambiente
Fenômeno, de certa forma, esperado. Todo movimento de “contra cultura” um dia acaba banalizado, absorvido pelo sistema. O sistema tem disso, ele sabe perceber que a melhor maneira de derrotar seus inimigos é absorvendo as suas teses e transformando-as para proveito próprio.
Foi assim com os hippies e com o judaísmo-cristianismo (ou sistema judaico-cristão). Absorvidos. Com a luta por um meio ambiente sadio e sustentável não seria diferente. Mas qual a diferença entre a cultura hippie, a judaico-cristã e a cultura de defesa pela conservação do meio ambiente?
As três tiveram os seus profetas e os seus messias. Hippies e defensores do meio ambiente, no entanto, diferem dos judeus-cristãos no ponto mais fundamental: a crença. Ou no seu corolário, o medo.
A cultura judaico-cristã atingiu as pessoas naquilo que lhes é mais caro: a finitude. Ao perceber o medo da finitude, a cultura judaico-cristã desenvolveu a crença na vida eterna. E acabou com tudo o mais.
Verdade seja dita: a maioria está se lixando para o meio ambiente pela simples razão de que, se ele acabar – e as pessoas acabarem também – as pessoas têm uma saída que o meio ambiente não tem: a vida eterna, “ao lado direito de Deus Pai”, como dizem os cristãos!
Não existe a crença no meio ambiente porque existe a crença na vida eterna. E, agora cumpre observar, não se trata apenas da cultura “ocidental”, a ver o que os mais de 3,5 bilhões de orientais – capitaneados pela China – andam fazendo com suas economias.
E tem mais, a cultura judaico-cristã desenvolveu o capitalismo, um sistema que tem por fundamento a exploração, seja do trabalhador, seja dos recursos do meio ambiente. O capitalismo também acredita na vida eterna. A vida da Terra não tem importância alguma diante das proezas que a tecnologia capitalista é capaz de fazer. Pouco importa se as futuras gerações verão árvores somente em filmes e fotografias (?): importa que para o capitalismo as pessoas estarão vivas para aproveitarem tudo quanto é produzido. A vida eterna, nos diz a cultura judaico-cristã por meio do capitalismo.
E essa crença no capitalismo é tão forte que mesmo as culturas orientais a ela se adaptam. O capitalismo os levará ao Nirvana! Mesmo que o Nirvana seja, também, uma fotografia colada na parede de algum quarto de um espaçonave qualquer perdida na galaxia!
A cultura judaico- cristã teve – e tem – o dom de desmaterializar tudo! Menos o que mais lhe interessa: a crença! E é justamente essa crença que permitiu absorver os hippies e, agora, permite absorver a defesa do meio ambiente.
Não há ser humano ou organização humana que não tenha por princípio ser “defensora do meio ambiente”. É, “capitalisticamente” falando, bacana para “imagem” defender o meio ambiente. Vende mais, alimenta mais ainda nossa sede de eternidade.
Na verdade, o que banaliza o meio ambiente é a nossa – dos profetas e messias modernos – incapacidade de mostrar que o meio ambiente é a vida eterna. Não a vida eterna de cada um, pois dessa a cultura judaico-cristã já cuida, mas a vida eterna da humanidade. Mesmo que esse eterno não passe de cinco bilhões de anos.
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