Seis lições para se eleger sendo de direita
1. Diga somente platitudes
O usual das pessoas é serem rasas. Não que elas queiram ser assim por vontade própria, mas tudo as leva a isso: péssima educação do país; 80% do que a mídia veicula é “abobrinha”, “fofoca” ou “futebol”; os 20% restantes, que podem ser notícias sérias, são convertidas e divulgadas para causar bipolaridade: contra ou a favor, bom ou ruim. O fenômeno se agudizou com a internet e as chamadas redes sociais: qualquer texto com mais de duas frases já não é lido. Exceção feita, claro, se o texto falar sobre a vida de alguma subcelebridade ou se tiver imagem de mulheres objetificadas.
Não obrigue as pessoas ao sacrifício de pensarem. Apele para as platitudes. As chances de conquistar um elevado número de eleitores será grande.
2. Seja conservador em tudo
Há uma linha tênue entre ser conservador e acabar cancelado por ser preconceituoso. Não tenha medo: conservadores “raiz” são, por definição, preconceituosos. O brasileiro médio é preconceituoso. Racismo, misoginia e homofobia são os campeões no quesito.
Seja claro: família somente a constituída por homem, mulher e filhos. Cisgêneros. Aliás, evite o máximo possível o uso da palavra “gênero”. Identidade de gênero, então, nem pensar. Seja contra a descriminalização do aborto e da maconha para consumo próprio.
Defenda a liberdade de forma irrestrita. De expressão, na economia, em tudo. Liberdade acima de tudo deve ser seu lema.
3. Defenda alguma religião
Nem todas claro. Apenas as monoteístas. E mesmo assim com certa ênfase nas cristãs. Faça um esforço para não entrar em debates que envolvam crenças de matriz africana ou indígena. Diga apenas que respeita e desvie o assunto com alguma platitude do tipo “todos têm liberdade de culto”.
4. Temas espinhosos
Educação, segurança, trabalho, mobilidade, meio ambiente, aquecimento global, privatizações e alguns outros, são os chamados temas espinhosos. São, também, o campo perfeito para uso de platitudes. Use à vontade frases de efeito: lutaremos para melhorar a segurança, iremos propor políticas contra o aquecimento global, somos contra as privatizações, e por aí vai.
Um detalhe importante: use sempre a terceira pessoa do plural. Nunca fale na primeira pessoa. O uso da terceira pessoa passa a ideia de que fazes parte de um grupo. Pessoas querem pertencer a grupos. Assim, coloque ênfase no verbo. E termine as platitudes com um ‘venha conosco nessa jornada”.
5. Prometa
Prometa muitas coisas. Lembre-se: brasileiro adora e vive de promessas. Promessa de que vai para o céu depois que morrer, promessa de que vão tirar o demônio do corpo, promessa de os juros do cartão vão baixar… Ih! Vai longe… Prometa, nas vilas, que vai construir a rede de esgoto, que vai calçar as ruas, que se eleito for todos os ônibus terão ar condicionado e circularão de dez em dez minutos, prometa construir creches, prometa qualquer coisa. E depois não se preocupe com cobranças, sempre será possível jogar a culpa na oposição, com a platitude de que eles sistematicamente impedem que seus projetos sejam realizados.
Um detalhe: só não cobre dízimo pelas promessas. Dízimo só compra lugar no céu ou, dependendo do valor, até tira o demônio do corpo.
6. Divulgue fake news
Não importa se a fake news já foi ou será desmentida. Até hoje tem gente que segue acreditando que o filho do Lula é dono da Friboi. Mas atenção: a fake news tem que ser de impacto e de preferência sobre algum adversário ou tema que ele esteja defendendo. Ah! E guarde as mais poderosas para divulgar na semana anterior às eleições. O adversário não terá tempo para se recompor. Será, como se diz, tiro dado, bugio deitado. Um pequeno cuidado: não defenda ou divulgue ideias sobre a Terra ser plana. Apesar de muita gente levar o terraplanismo a sério, não convém despertar a ira dos defensores da Terra redonda. E se algum adversário perguntar se você acredita que a Terra seja plana, novamente saia com uma platitude do tipo: “todas as formas de pensar a natureza devem ser respeitadas”. E emende um “mas e o Lula, hein?”.
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