Escrevi esse texto em abril de 2008, para o nosso pioneiro blog “Faça a sua parte” (éramos um grupo de ativistas ambientais). Infelizmente, passados 15 anos, tudo piorou.

O foco está errado. A natureza não vai acabar. Não assim, sem mais nem menos, depois de existir por quase cinco bilhões de anos, resistindo a tudo quanto já passou por esta Terra. Pensar que somos capazes de destruir a natureza não passa de um pensamento megalomaníaco, que nos atribui a superioridade entre os seres vivos e, quiça, à própria natureza. Algo como um Deus invertido. Se Deus a tudo pode criar, aos seres humanos a tudo é dado destruir. Nada mais errado!

Não somos deuses. Não temos essa capacidade. A única capacidade que de fato temos, é a de causar a extinção da própria espécie humana. Muito antes de derrubarmos a última árvore, seremos extintos pelas nossas próprias ações.

Por essa razão o foco está errado. Não é da natureza que devemos cuidar, mas do próprio ser humano. Nós, como espécie, é que corremos risco. E o pior dos riscos; pois, se outras espécies sucumbiram por
fenômenos alheios a elas, a nossa extinção está fadada a ser causada pelos próprios seres humanos.

Se olharmos para a história, veremos que a última grande transformação da sociedade humana ocorreu no período conhecido como Renascença, período cujo mote era trazer o homem ao lugar dado a ele pelos antigos. O Humanismo, ideia central da época, teve o condão de sepultar, de vez, a longa noite medieva. Quase como por ironia, o que se seguiu foi chamado de “Século das Luzes”, como que a exorcizar a escuridão anterior.

Passamos por um período muito semelhante a Renascença. Os sinais estão no ar. Vivemos a decadência de uma “civilização”, com a diferença de que, até agora, não encontramos um “humanismo” que nos leve a um outro patamar de existência. Devemos procurar um humanismo, mas não um humanismo que possa resultar, como o anterior resultou, num individualismo exacerbado; num individualismo suicida, dissociado da natureza, posto que colocou o homem acima de tudo e de todos.

O foco deve retornar a ser o ser humano; mas um ser humano integro, isto é, um ser humano que saiba que é parte indissolúvel da natureza.

Se não preservarmos os seres humanos, os seres humanos não preservarão a natureza.

E se seres humanos e natureza devem ser a mesma coisa, devemos avançar para um humanismo ambiental;
um humanismo que coloque seres humanos e natureza, juntos, no centro. Abandonar Protágoras e dizer: homem e natureza são a medida de todas as coisas (a construção parece deixar transparecer, ainda, uma divisão entre seres humanos e natureza, mas não é essa a idéia de um humanismo ambiental. Utilizei a frase de Protágoras apenas para contraposição).

Humanismo Ambiental deverá buscar o desenvolvimento de uma nova espécie: o homo ambientalis. Um homo consciente de que a sua preservação é o mais importante.

“Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força… O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa arazão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano.” (I Ching)

E o que é preservar os seres humanos? Vamos pensando…

https://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/08/Nico_Wall_-_texto.jpeghttps://www.escosteguy.net/wp-content/uploads/2023/08/Nico_Wall_-_texto-150x150.jpegLuiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoHumanismo ambiental,I Ching,Meio Ambiente,TerraEscrevi esse texto em abril de 2008, para o nosso pioneiro blog 'Faça a sua parte' (éramos um grupo de ativistas ambientais). Infelizmente, passados 15 anos, tudo piorou. O foco está errado. A natureza não vai acabar. Não assim, sem mais nem menos, depois de existir por quase...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!