Palavra do Dia: #39/2023 – Preconceito
XXXIX – I – III EL
Triségimo Nono Dia do Primeiro Ano da Terceira Era Lula
Preconceito. Qual é o pior dos preconceitos? Faz sentido essa pergunta?
PPP – preto, pobre e puto. Ainda usado, mesmo que não de forma “pública”.
É possível piorar? Sim: preta, pobre e puta. Incluímos a misoginia. Mas ainda é possível piorar: preta, pobre, puta e mãe solteira.
Seguimos: preta, pobre, puta, mãe solteira e empregada doméstica. Só mais um pouco: preta, pobre, puta, mãe solteira, empregada doméstica, idosa e praticante de religião de matriz africana.
A figura pode parecer uma hipérbole, mas expressa bem o que é o Brasil. Não? Vejamos.
Com certeza 58.206.354 brasileiros são assim. Pensam assim. E quando podem, se expressam assim. São os eleitores do ex-presidente fujão. Mesmo os não tão raiz assim, aqueles que apenas se dizem conservadores, ou que se dizem de direita, o que dá no mesmo, pois toda direita é, por definição, conservadora. E os neoliberais e similares, pois o neoliberalismo pressupõe que para que existam brancos e ricos, brancas e ricas, é condição fundamental a existência de pretos e pretas, pobres, putos e putas, empregadas domésticas e toda a sorte de pessoas a serem exploradas.
É possível piorar? Sim! Considerando que, em média, metade dos votantes do pregador da família, da pátria, da liberdade e de deus tenha ao menos um filho – que já está sendo adestrado -, atingimos a marca de praticamente 90 milhões de brasileiros que acreditam piamente que pretos, pobres… não passam de subespécie humana.
Vamos piorar um pouco mais? Vamos. Não vamos nos iludir pensando que dentre os 60.345.999 eleitores do Lula não existem pessoas assim. Existem os enrustidos, os que ainda, no íntimo, apesar de progressitas e defensores de pautas sociais, não superaram totalmente os seus preconceitos. Não expressam publicamente, mas vez por outra deixam escapar expressões que denotam a existência do preconceito. Deixemos por baixo: um terço. Somemos aos 90 milhões e atingimos a marca de 110 milhões de brasileiros que apresentam os mais variados tipos e graus de preconceito: do extremo ao mais leve.
Apenas como alguns exemplos, recentes, de que parece não haver solução, não ao menos no curto e médio prazo, para o racismo entranhado nos brasileiros:
- O deputado federal gaúcho, Maurício Marcon (Podemos-RS), fez, recentemente, uma declaração comparando a Bahia com o Haiti e dizendo que é tudo “sujo”: ““A gente esteve lá na Bahia. É um Haiti, não tem explicação, é uma pobreza, é tudo pichado, é sujo. (aqui)
- Outro deputado federal, Nikolas Ferreira (PL-MG), vai ser julgado por injúria racial, por ter se referido (aqui) à também deputada federal Duda Salabert, uma mulher transexual, usando o pronome masculino. O STF já firmou entendimento de que “ofensa à honra pessoal, em desrespeito à identidade de gênero, é uma espécie de racismo”.
- Empresário bolsonarista chama arquiteto negro de “macaco” após reclamação e ameaça “dar um pau”. (aqui)
- Cabelereiro diz que “Não contrata preto, gordo e viado e petista”. “No caso da mulher tem duas coisas: gorda e preta”. (aqui)
- Idoso, salvo por jovem negro, após se recuperar: “não gosto de preto, preto para mim é tudo vagabundo”. (aqui)
Só “gente do bem”…
Uma parte da solução para mudar esse quadro – mas muito no longo prazo – é uma rigorosa aplicação da lei que equiparou injúria racial ao racismo e muitas, mas muitas mudanças no sistema educacional brasileiro.
E dá pra piorar: preta, pobre, puta, mãe solteira, empregada doméstica, idosa, praticante de religião de matriz africana, gorda e nordestina.
Racismo, aporofobia, putafobia(1), etarismo, xenofobia, misoginia… A lista de preconceitos é enorme.
(1) Putafobia: palavra criada por Cida Vieira, presidente da Aprosmig – Associação das Prostitutas de Minas Gerais
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