Da série “Dez razões para não votar em… – III: Eduardo Campos
O post estava pronto para publicação hoje à noite. Chego de viagem e vejo a notícia do acidente que matou o candidato Eduardo Campos.
Claro que agora só me resta uma razão para não votar nele.
Das quatro razões da série – econômicas, administrativas, sociais e pessoais – vou manter o que havia escrito sobre as razões pessoais para não votar nele. Aliás, não é novidade alguma, pois já escrevi sobre isso. E é uma interpretação estritamente pessoal.
Precipitação. Desde o início pensei que a candidatura de Eduardo Campos foi um lance de ego. É do conhecimento de todos que Lula tinha grandes projetos para o Eduardo. O próprio Lula investiu na candidatura de Eduardo Campos para o governo de Pernambuco. Lula o tinha como sucessor de Dilma em 2018.
Qualquer um, que observe e analise a realidade política brasileira, sabe que carecemos de “gente nova” com quilate para renovar o próprio PT. Nos partidos de oposição sequer há o que falar.
Eduardo Campos trazia consigo todas as virtudes para a continuação de um governo de esquerda. A formação recebida do avô e toda a trajetória que teve no PSB, partido por natureza, essência e manifestação de esquerda. O avô, recordemos, foi ferrenho opositor do governo tucano de FHC. Eduardo Campos, ministro de Lula, O PSB aliado do governo – e vice-versa – desde Lula.
Eis que surge, na cena nacional, Fernando Haddad. Lula aposta todas as fichas nele para a prefeitura de São Paulo. E ganha.
Junto com o novo filho, nasce o ciúmes do filho mais velho. Os pais não abandonam o filho mais velho pelo nascimento de um novo rebento, mas parece que Freud já explicava o fenômeno lá pelos idos iniciais do século XX: é natural uma fase de sentimento de rejeição por parte do filho mais velho. Os “psi” tratam disso cotidianamente.
(Lembremos: razões pessoais e analise estritamente pessoal. )
A atual novela da Globo, “Império”, anda retratando isso muito bem: o sentimento de rejeição do filho mais velho ao perceber (ou fantasiar, no caso) a preferência do “Comendador” pela filha, que é mais moça, para a sucessão na empresa.
Associe-se, a esse sentimento de “risco de perder o amor do pai”, o fato de que o avô propugnava pelas candidaturas próprias do PSB como forma de fortalecer a imagem do partido não apenas de “base”, mas como sendo capaz de ter forças de comandar “bases”.
Não sei se Eduardo Campos fazia algum tipo de terapia para lidar com esses conflitos, por sinal, comuns a todos os mortais. O fato é que resolveu correr em raia própria.
E como todo primogênito que se sente abandonado pelo pai (mantidas as exceções de praxe), acaba por se associar com “amigos” nem tão amigos assim. Gente que se aproveita da fragilidade do momento de vida das pessoas para tirar proveito próprio.
E essa é outra razão, das pessoais, pela qual não votaria em Eduardo Campos: a associação com Marina.
Marina é, para mim, uma embusteira política (e, sem dúvida, ela virá como candidata aproveitando ao máximo a comoção pela morte do Eduardo Campos). E Eduardo Campos caiu no canto da “sereia”. Houvesse Eduardo Campos seguido seu desejo de correr em raia própria, minhas divergências estariam limitadas a alguns aspectos operacionais de governança. Muitas das quais, não duvido, quiçá até fomentadas pelo Lula, como visionário que é do que deve ser mudado.
A candidatura de Eduardo Campos foi tão prematura quanto a sua morte. Perdemos parte do que poderia ter sido uma boa política futura, nesse Brasil tão carente de um futuro político.
Aprendamos com a morte, quando ela diz: “A vida é trágica, não eu!”
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