Afinal, o que é essa tal “oposição”? – II
Na sequência, os tipos de “candidatos”:
2. candidatos de partidos que não estão no governo mas querem ser governo;
3. candidatos de partidos que abandonaram o governo mas querem ser governo;
4. candidatos de partidos que estão no governo mas querem ser governo por eles mesmos;
5. candidatos de partidos de esquerda, estando ou não no governo mas que discordam do governo;
Partidos políticos, por definição, são agremiações cujo interesse é o domínio e o uso do poder político, isto é, executar uma determinada ideologia. Partidos, em tese, possibilitam a representação de uma comunidade de interesses no conjunto da sociedade. São a única forma de representação nas democracias modernas. Não são, claro, a única forma de participação, pois temos a participação direta, embora esta seja muito pouco aplicada ou, mesmo quando aplicada da forma prevista, depende da representação para ter seus desejos executados.
Partidos são consequência natural da existência humana. Mesmo nas sociedades horizontais e auto geridas, os partidos existem, apenas não são legalizados como estrutura de poder. No momento em que duas pessoas concordam com uma ideia, está criado um partido.
Partidos, pois, não são entes ruins para a convivência social. São a natureza da sociedade. Ser social é ser partido.
Tudo isso é muito lindo, quando tomado da teoria. Na prática, o que acaba prevalecendo é o domínio pessoal em detrimento do domínio social ou da representação. Ou o domínio do poder sobre o domínio da coletividade.
A ditadura civil-militar que comandou o país a partir de 64, até 85, deixou uma das piores heranças que uma sociedade pode receber: a quebra da representação. Criou partidos. Dois, no caso. A maior aberração política já feita no Brasil e que tem consequências até os dias atuais.
Partidos, que deveriam nascer da comunhão de vontades das pessoas, passam a ser criados pela simples vontade de uns e outros. Perdem a natureza de representação para adquirirem a natureza da adesão. E aí entra o pior de tudo: a adesão se torna pessoal e não mais por ideologia. Vota-se em candidatos e não em programas derivados de ideologias.
Não foi por outra razão que tanto Arena quanto MDB se dividiram em miríades de partidos quando puderam. E não por divergências ideológicas, mas tão somente por terem aprendido a lição da ditadura: o que vale é a vontade pessoal. O resto se dá por adesão.
A ditadura definiu: partidos e candidatos são criados por uns poucos. Ao resto cabe aderir!
Não por outra razão o PT surgiu como surgiu: da vontade das pessoas. E por isso fez o sucesso que fez. E apaixonou as pessoas! Conquistou, como se diz, corações e mentes.
E se tornou poder. E criou uma pessoa. E, como era esperado, essa pessoa tornou-se maior que o partido. Dai nasce o sentimento de “anti-partido”. As pessoas não são contra o Lula e sequer o detestam, mas são anti-PT e detestam o governo do PT. O mesmo se pode dizer da Dilma. Já ouvi gente íntima dizer: só não voto na Dilma porque ela é do PT.
Tudo isso explica os quatro tipos de oposição de candidatos: eles são, na verdade, oposições pessoais. Não são oposição ideológica.ilma
Aécio Neves, candidato que não está no governo, mas quer ser governo (retornar ao governo) difere de Lula e Dilma apenas em grau. O que os torna diferente é tão somente o grau de ideologia social. Aécio zero, Lula e Dilma 80.
Aécio carrega consigo a péssima experiência no governo de Minas Gerais. Se a ideologia que ele defende fosse realmente boa, Minas Gerais em peso seria Brasil. Mas não é!
Aécio é o mais bem acabado exemplo do resquício da ditadura: um candidato criado e que precisa de adesão para sobreviver.
Eduardo Campos, por sua vez, representa a segunda categoria de oposição pessoal. Nesse aspecto até superou Aécio, pois resolveu abandonar um governo do qual já fez parte para lançar-se numa aventura absolutamente pessoal. Tão pessoal, que abandonou inclusive o viés de esquerda do PSB para flertar com a direita. Tudo por um governo!
Anda mais perdido que cusco em procissão, pois não sabe mais a diferença entre ser oposição de esquerda e ser direita. Mais uma vez perde-se a ideologia em favor de projetos pessoais. Mais um ponto para a ditadura civil-militar.
A terceira categoria de oposição de candidatos é mais visível nos estados, atualmente. Esse fenômeno é consequência do modelo político perverso que temos, que privilegia pessoas em detrimento de ideologias.
Um recente exemplo, acontecido no RS (mas deve acontecer em quase todos os estados), ilustra bem essa esdrúxula situação: a senadora Ana Amélia Lemos, do PP, apoia a candidata à prefeita do PCdoB, que sempre foi parceira do PT, contra o PT. Só que o PP faz parte do governo federal. E agora a senadora aparece como possível candidata ao governo do RS, contra o PT. E o candidato do PT terá o apoio do PCdoB, da candidata apoiada pela senadora do PP.
Resquício da ditadura civil-militar mais uma vez, que acabou definitivamente com os partidos no Brasil.
Por fim, uma discordância que poderia ser saudável. Mas não sabe se aproveitar disso. Faz como os demais e transforma tudo em questões pessoais.
Carecemos de uma oposição de esquerda, mais até do que uma de direita. Não é tarefa fácil ser de esquerda e ser oposição a um governo de esquerda. Ser oposição de direita ou conservadora é até fácil, as cartilhas estão todas prontas. Basta ler e seguir.
Ser oposição de esquerda significa construir algo novo. Infelizmente não temos gente capaz disso na esquerda que abandonou o governo ou mesmo naquela que segue no governo.
E aqui reside o mal maior: não temos, seja de que lado for,oposição ao modelo preconizado pelo PT e seus governos. O que temos são projetos pessoais vendidos como sendo de partidos.
Mesmo aqueles dentro do PT que propõem alternativas (como o governador do RS), encontram enormes dificuldades em se fazer entender dentro do partido.
Resumindo, para finalizar essa parte: não existe oposição entre candidatos. Será que entre as pessoas haverá?
(continua…)
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