A matemática do meio ambiente
A entrevista que dei ao Blog do Planeta (post de 26/02) saiu com algumas edições. Previstas, é claro, até por razões de espaço. Quando respondi as perguntas observei ao Alexandre que as respostas poderiam ser editadas sem problema algum. Mas houve uma edição que acabou por limitar uma idéia que havia desenvolvido um pouco mais: a da matemática do meio ambiente. Agora desenvolvo a idéia para debate.
A análise contrapunha duas idéias que permeiam o debate sobre as questões ambientais: ação individual versus ação coletiva. Há os que propugnam pela primeira (eu, por exemplo – e me parece seja esta a concepção do Faça) e os os que propugnam pela segunda.
Se associarmos esses dois conceitos aos conceitos matemáticos de soma e multiplicação, podemos com tranqüilidade associar a soma à ação individual e a multiplicação à ação coletiva, ao “a união faz a força”. E basicamente é isso que defendem os que partilham da idéia de que a ação coletiva pode mais que a ação individual: a união faz a força.
A multiplicação representa esse conceito. Multiplicar sempre nos pareceu mais poderoso que somar. E aqui reside o grande poblema quando aplicamos esses conceitos ao meio ambiente. A multiplicação, apesar de parecer poderosa, tem o condão de eliminar o aspecto mais fundamental de todos, na minha opinião (que fique bem claro!): a individualidade. E mais – e talvez o pior de todos os efeitos da multilicação – ao sumir no meio do todo e não ter a sua individualidade reconhecida, o ser humano tendo a um comportamento individualista, que, sabemos, é extremamente ruim para qualquer situação dessa vida.
Só para efeitos de clareza visual:
1+1+1+1 = 4, certo. Na multiplicação teremos 4 X (1) = 4. Imaginem agora que a primeira expressão possa ser escrita assim: joão + maria + luiz + ana = 4. Ao transpor para a fórmula da multiplicação, fica evidente que joão, maria, luiz e pedro simplesmente somem para dar lugar ao genérico “pessoas” (e como simples pessoas poderão ter comportamentos individualistas). A multiplicação tem sido muito utilizada para salvar a pele de donos ou dirigentes de empresas poluidoras, pois o que conta é a “empresa”, ente que é o resultado da multiplicação dos esforços de diversas “pessoas”. Romper com esse conceito é o que está por trás da legislação ambiental ao prever a possibilidade de depersonalizar a pessoa jurídica, para atingir o indivíduo, ou indivíduos, que tomam decisões que redundam em dano ao meio ambiente.
Essa é a idéia. A soma preserva a individualidade. E na individualidade joão será preservado nas suas ações, boas ou ruins.
Creio que devemos mudar o foco do “social”, da “comunidade”, para o indivíduo, no debate das questões do meio ambiente. A matemática do meio ambiente (a soma) fará surgir, naturalmente, o social, o coletivo. Mas é importante lembrar que “sociedade” é um ente que por sí só não atua. Quem atua, seja por comissão, seja por omissão, são os indivíduos.
Consciência ainda é, que eu saiba, uma característica exclusiva do ser humano. E se temos que mudar a consciência, é nos indivíduos que temos que atuar e não nesse ente “sociedade”.
Indivíduo ambientalmente consciente + individuo ambientalmente consciente + … foi o que chamei de “consciência ambiental”. E esse é o único coletivo que devemos ter em matéria de meio ambiente.
Assim, não somos tentados ao velho pensamento: “de que adianta esse pouco que faço?”, que, no fundo no fundo, é um pensamento individualista e não o pensamento de um indivíduo (que pressupõe consciência).
Essa é a matemática do meio ambiente: somar individualidades e, não, multiplicar individualismos. O coletivo será um coletivo de individualidades e não um coletivo feito de uma massa de pessoas anônimas, muitas vezes manipuláveis pelas corporações e pela mídia.
https://www.escosteguy.net/a_matematica_do_meio_ambiente/Para pensarA entrevista que dei ao Blog do Planeta (post de 26/02) saiu com algumas edições. Previstas, é claro, até por razões de espaço. Quando respondi as perguntas observei ao Alexandre que as respostas poderiam ser editadas sem problema algum. Mas houve uma edição que acabou por limitar uma idéia...Luiz Afonso Alencastre Escosteguy [email protected]AdministratorEscosteguy
krak kra eu sou um aluno de 1 ano do ensino médio e isso me ajudou muito sei plenamente do que vc está falando muito bom saber que existem pessoas que pensem assim!!!
Papo cabeça… Tô aprendendo, tô aprendendo…abraço, garotos
Cláudio e Ricardo. É por aí. Muito se cobra uma manifestação da subjetividade, mas na hora que pensamos em fazer isso somos “jogados” num coletivo onde essa subjetividade perde seu valor. Daí desponta o individualimo que é, a meu ver, um dos maiores perigos para o meio ambiente. Não conhecia a frase do Milton Santos. Sábia. abs
Caro D. AfonsoEscrevi um texto lá no meu blog “orbis terrarum” que, apesar de ter um conteúdo mais político, trabalha com essa questão da individualidade. O grande geógrafo Milton Santos uma vez escreveu que “vivemos num momento no qual o individualismo prevalece sobre a individualidade”. Vale a pena refletirmos.Um abraço,Ricardo Safra, estudante de Geografia
Interessantes suas argumentações pró “indivíduo”. É claro que tanto a multiplicação quanto a soma podem resultar no mesmo “resultado”, entretanto, a ênfase no indivíduo é crucial, pois “cada um de nós se sentirá responsável e não se esconderá no anonimato”. Curiosamente, na Psicanálise, o operação que embasa a transposição da Teoria para a Técnica (prática clínica) enfatiza a necessidade da preservação da “singularidade” (o UM A UM). Assim, diz-se que cada análise é uma única e não podemos generalizar interpretações, etc. Talvez não tenha nada a ver uma coisa com outra, mas sou movido a “associações livres”. A ‘responsabilização’ de cada um é fundamental. Associo, igualmente, a proposta de “revolução molecular”, dos franceses Deleuse-Gattari que batem na mesma tecla. Abraços.
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