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Ninguém sabe a real origem de um mito. O que sabemos é tão somente o produto de uma hegemonia. Em determinado momento uma tradição, oral ou escrita, toma corpo e vira uma realidade pétrea. A única coisa que podemos ter absoluta certeza, sobre o nascimento dos mitos, é que em todas as certidões de nascimento consta, como pai, o medo, e como mãe, a esperança.

Mas estamos assistindo ao nascimento de um mito e dele sabemos quem são os pais e quem são os avós. Aliás, a genealogia desse mito é muito bem conhecida e remonta, só para falar do ramo brasileiro, há uns 1.000 anos.

Atribui-se, atualmente, ao ano de 2013 o nascimento do primeiro grande mito brasileiro. Como se tivesse surgido do nada, como sói acontecer com os mitos

A hegemonia da mídia carioca e paulista cria o mito. Poucos sabem a origem. Apesar do apelido de “Jornadas de Junho”, que tenta atribuir um ar de “algo diferente” às manifestações, o mito começou timidamente em Porto Alegre.

E começou com o protesto pela derrubada de árvores para ampliação de uma avenida em um dos pontos “mais caros” aos porto-alegrenses: a Usina do Gasômetro. Atenção para o detalhe: apesar de ser “obra da Copa”, até então não haviam surgido manifestações especificamente contra a Copa. Pouco depois – e bem antes de o MPL de São Paulo sair às ruas – os porto-alegrenses fizerem manifestação contra o aumento das passagens de ônibus.

[uma observação pertinente: não se trata de buscar primazia para POA, mas apenas de relatar como nasce um mito, feito, que foi, pela mídia hegemônica]

Hoje vivemos em plena era do mito, como se fosse um novo e poderoso deus grego: o mito da insatisfação. Os pais são bem conhecidos, fizeram as Diretas Já. Os avós? Esses lutaram contra a ditadura civil-militar de 64. E muitos sucumbiram sem sequer deixarem descendentes genéticos.

O mito nasce sem história e por uma simples razão: ao tempo dos avós foi criada a mídia hegemônica. E essa mídia não tem feito outra coisa, aos longo desses 50 anos, que criar a história oral e escrita do mito da insatisfação. Apagou da memória das reais manifestações para introduzir o mito da insatisfação.

E em nome do Deus da Insatisfação, conclama movimentos de rua e apregoa que nada presta no Brasil atual.

Uma juventude, deliberadamente desorientada pela mídia e criminosamente abandonada pelos pais (84) e avós (64), toma para si a revolta (14). E, como todo jovem sem orientação, submete-se às drogas: surgem os Black Blocs.

Há uma constância nesses 50 anos? Há. A classe dominante, representada nos governos – e, pasmem-se, até no atual – que ignora seus netos.

A revolta que hoje assistimos é a revolta do netos.

E que querem os netos, sem que sejam perturbados pela mídia e pela polícia militar do tempo dos avós e dos pais? CIDADANIA!

Os avós e pais diziam que cidadania era votar, era democracia. O netos dizem muito mais: dizem gays, dizem negros, dizem índios, dizem meio ambiente, dizem educação, dizem ficha limpa, dizem não à corrupção, dizem transparência, dizem participação, dizem decisão, dizem, muito claramente, não me vendam democracia, pois o que quero é CIDADANIA. A democracia nós faremos com cidadania.

Esse é o desafio do Brasil para o século XXI: acesso à cidadania.

E o que significa acesso à cidadania? Significa acesso à dignidade humana.

Há quem defina cidadania com a forma do próprio umbigo. Há uma semana que a vida brasileira parece se resumir a um jornalista morto e as mais diversas teorias de conspirações possíveis.

Nosso grande desafio vai além da Copa: como, em pleno século XXI, teremos acesso à cidadania, sem que nos deixemos enganar pela cantilena de que cidadania é somente democracia?

Luiz Afonso Alencastre EscosteguyO ChatoNinguém sabe a real origem de um mito. O que sabemos é tão somente o produto de uma hegemonia. Em determinado momento uma tradição, oral ou escrita, toma corpo e vira uma realidade pétrea. A única coisa que podemos ter absoluta certeza, sobre o nascimento dos mitos, é que...Antes de falar, pense! Antes de pensar, leia!